quinta-feira, 6 de abril de 2006

Tudo errado

Uma cena.

Baladinha. Uma birosca decadente: pouca iluminação, algumas mesas de bilhar e um palco de madeira, onde vivia uma colônia de cupins. A banda tocava sabe-Deus-o-quê, mas eu e uma amiga dançávamos. Sei que aquela noite tomamos muito frozen, porque na compra de um você ganhava outro.
Eu, àquela hora, estava com uma latinha de cerveja quente na mão. Esses bares que não vendem cerveja de garrafa são os maiores fins-de-carreira. Considerando a minha noção etílica, um cara de uns 40 anos estava próximo a nós duas. Ele estava mais louco do que todos os super-heróis juntos e tinha um bigode que deixaria qualquer mexicano que se preze no chinelo. A camisa aberta até o umbigo e umas várias correntes de prata, que mais parecia latão. Suava em bica e as pernas tremiam tanto num requebrado que era só dele. Parecia aquele burrico paraguaio, feito de madeira, todo articulado e com um mecanismo que é possível mexer cada um dos seus membros. Todo mundo teve um quando criança. Um marionete, desengonçado e bêbado, que dançava freneticamente.
Como não haveria de ser diferente, o cara estava se achando no direito de ocupar todo o minúsculo espaço da improvisada pista de dança. Esbarrava nas pessoas, pisava nos pés ao seu redor e era necessário desviar dos golpes despretensiosos da sua mão descontrolada. O problema foi quando ele nos focou. A música, antes a diversão da noite, passou a ser fator secundário; o principal para ele atazanar a mim e a minha amiga.
Esbarrou uma vez. Pisou no meu pé pelo menos cinco vezes. Empurrou minha amiga, não uma, mas três vezes. Acertou com a face da mão no braço da minha amiga. Esbarrou mais uma vez. Eu comecei a dançar exagerada e esbarrei, sem-querer-querendo, nele. Continuamos a curtir o som e a dançar. Apesar do inconveniente de carne e osso, eu estava muito tranqüila. A minha amiga, não.
Quando ele pisou pela oitava vez no pé dela, não hesitou:
- Ei - cutucando o ombro do cara - pára de pisar em mim!
- O quê?
- Pára de pisar em mim! - dessa vez gritou, bem próximo do ouvido dele.
Eu, distraída, estava mais em outro plano, alheia a discussão. Não ouvi, tampouco vi nada. Só senti o murro canhoteiro. A mão fechada, toda força raivosa de um homem bêbado e bigodudo, concentrada e explodindo no meu ombro.
Fui jogada para trás, desprotegida. Algumas pessoas que asistiam a cena vieram me acudir. O bigodudo foi atacado por todos os seres do sexo masculino presentes, revoltados com a atitude:
- Bater em mulher não, rapá - gritou um deles
O tiozão foi espancado e jogado para fora do bar. Eu, atordoada e nauseada pelo murro, percebi o que acontece quando a pessoa errada, está no lugar errado e na hora errada.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tem coisas que só a Teta conta procê! E a bicha é cagada, viu? Se é...