sábado, 15 de abril de 2006

O samba sabe o que diz

Há duas semanas, fui ao Samba da Vela, um projeto da Comunidade de nome homônimo, sediado em Santo Amaro. Além de celebrar o mais puro samba de raiz, a preocupação em conscientizar frequentadores sobre os cânceres da sociedade é presente nas letras das músicas e nas falas dos chefes da Comunidade. Fiquei impressionada ao perceber que o mesmo povo que grupos de intelectuais obsoletos alcunham de ignorante e alienado, não o é. O proletariado, a massa supostamente comandada pela aristocracia pós-moderna tem um projeto de resistência muito claro, mas não tem voz. Ai reside o cerne da questão.As letras dos sambas falam de amor, de política, de cultura, enfim, da vida. Falam do passado com nostalgia, do presente com desengano e de um futuro utópico.
O sambista Murilão, no alto do seus 70 anos, foi quem mereceu uma atenção especial na noite de ontem. Ao ser chamado a compor a roda, juntar-se aos seus, levou uma composição que falava da situação política do Brasil e dizia mais ou menos assim:
"Acabo de vir de Brasília, (ajeitando a gravata)
e vou contar a vocês meus amigos,
o que é o conselho de ética,
é uma doença morfética,
que por lá se espalhou"
Vou parar por aqui. Acredito não ser necessário mais nada dizer. O povo não é burro. O povo sabe. O povo fala. Os escândalos que o Brasil conheceu o ano passado, e que continua vendo ainda hoje, passam pela composição simples do Murilão. Do Conselho de Ética muito se falou, pouco se entendeu, nada se resolveu. Está na boca da roda de samba, que é o retrato do Brasil.
(em breve vou disponibilizar uma série especial para rádio sobre o Samba da Vela que ajudei a produzir)

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