terça-feira, 11 de abril de 2006

Crescer é muito difícil! - parafraseando Guimarães Rosa (licença poética)

A real medida das coisas: as escolhas e as perdas que elas implicam, a linha tênue entre afetividade e paixão e o abismo invisível existente entre confiança e traição, são alguns dos conflitos da alma abordados a partir de uma narrativa introspectiva, detalhista e ao mesmo tempo enxuta. O eixo temático de Longe da Água, de Michel Laub, escrito em primeira pessoa e com discurso indireto, é a culpa.
Ambientado em três espaços físicos – Porto Alegre, onde o narrador viveu a infância; Albatroz, a praia na qual passava as férias e São Paulo, que conheceu na maturidade – o livro usa o presente para falar de um passado que talvez não deixe saudade. Laura e Jaime são as figuras marcantes do livro e representam, para o protagonista, ao mesmo tempo alívio e angústia. As dúvidas enfrentadas na adolescência, a descoberta da sexualidade e a edificação de uma personalidade madura são temas corriqueiros que, para o autor, adquirem simbologias específicas no desenvolvimento da história.
Michel Laub fala com verdade e com sentimento, fator que deixa em aberto quanto do conteúdo do livro é autobiográfico. O que no início parece uma contenção de sentimentos se revela como necessidade de trazer à tona os pensamentos mais íntimos. Fica a questão como um mistério indissolúvel: cada um tem uma versão para o mesmo fato. A história do livro adquire curiosamente um caráter universal, provocando uma sensação de encaixe, uma espécie de ‘dejavú’.
É possível avaliar que o autor tem pela reflexão verdadeira adoração, elemento fundamental para a construção de um enredo carregado de conteúdo psicológico, que só se mostra à medida que a leitura vai prosseguindo. Entretanto, um ponto negativo na parte final do livro, momento que o leitor, imerso no universo dos personagens, não tem mais tempo para devaneios. O uso dos flash backs dão a impressão de obsessão pela idéia de que o personagem é marcado por algo mal resolvido.
O texto, embora seja delineado por um estilo do autor, não oferece nada de inovador ao leitor. O tema é recorrente em muitas obras da literatura. Apenas para citar: “Olhai os lírios do campo”, de Érico Veríssimo, apresenta estrutura e temática semelhantes ao Longe da Água.
Michel Laub não abre a porta de supetão; entra sorrateiro, sem que ninguém perceba. Prepara o leitor para situações posteriores, que vão se desenvolvendo ao longo da história. É um torpor sutil. As frases curtas, os capítulos reduzidos e o encadeamento das palavras na estrutura global do texto dão leveza e ritmo, como uma valsa de Offenbach; mas o significado que elas adquirem no contexto é pesado e denso, como um adágio de Bach. É como dizer um palavrão sorrindo. Falar dos conflitos da alma é demasiado complexo: aquilo que todo ser humano sente, mas nenhum tem coragem de falar.
O personagem cresce, amadurece, mas para isso sofre: sente-se culpado por coisas que poderiam ter sido diferentes, se assim ele quisesse, mas não foram, por outras tantas adversidades da vida. E ainda que um senhor – que alguns poderiam chamar de pai, outros de sábio – dissesse que há duas formas de aprender: pelo amor ou pela dor, a escolha unânime é pela segunda opção.

(O livro Longe da Água é do escritor gaúcho Michel Laub, radicado em São Paulo e editor da Revista Bravo!)

Um comentário:

Anônimo disse...

Acho que vou ler...parece bom esse tal de Laub!