sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Anedota tirada de uma notícia de jornal

Saíra apressada aquela manhã. Nem tivera tempo de pentear as longas e negras madeixas adequadamente. O pente era apenas para a franja; cinco escovadas do lado esquerdo, cinco do direito e duas atrás: era seu rito de passagem da casa para a rua. Não era um cabelo exatamente lindo. Mas tinha volume e brilho naturais.
Correndo as escadarias do pequeno prédio no Botafogo, onde mora com a avó, ganhou as ruas do Rio naquela manhã e logo fez o sinal para que o ônibus que a conduziria até o Glória parasse.
Entrou no veículo, passou pela catraca e acomodou-se na segunda dupla de bancos do lado direito.
Abriu o livreto de palavras-cruzadas que gostava de ter como passatempo durante a viagem e, distraída, começou a completar as lacunas. Houve um movimentação suspeita no ônibus. Ela mal percebeu. Aproximava o livreto dos seus olhos vivos no afã de descobrir uma palavra incógnita.
Dois sujeitos ocuparam os assentos vagos, bem atrás dela. Um, ficou em pé, parado, bem ao lado.
Com destreza, um deles pegou uma tesoura e começou a executar o serviço. Dividida entre o passatempo e o incômodo que àquela hora sentia no couro cabeludo, pensou que alguém estava puxando seus fios.
Ao que fez menção de virar-se para tirar satisfações e pedir que parassem de lhe puxar os cabelos, o sujeito que estava em pé, justamente dando cobertura, puxou do cós de suas calças um revólver previamente engatilhado.
- Shiiiiu... É um assalto. Cala a boca e fica tudo na boa...
Sem entender, não demonstrou resistência e até ofereceu a bolsa, onde estava sua carteira com alguns poucos trocados. Nesse entretempo, o mais magricela do trio terminara o trabalho.
- Rapa daqui, vamo rapá daqui...
Deram sinal para que o ônibus parasse e com o tufo de cabelos nas mãos o trio saiu comemorando. O assalto fora bem sucedido.