quarta-feira, 9 de agosto de 2006

O amor como máscara

Amores impossíveis com diferença de dois séculos na concepção de um e de outro. Em ambas histórias, os protagonistas sacrificam seus privilégios e regalias em nome de um amor, que ao menos se prova, para vida toda. A filmagem do longa "Tristão e Isolda" (2006), por Kevin Reynolds, baseado em uma história que data do século XII, assinada pelo francês Béroul - não há registros autorais da lenda, o que se sabe é que veio a público na Idade Média - faz com que a memória traga a tona a história Shakespeareana dos amantes eternos "Romeu e Julieta".
Além de arrancarem suspiros apaixonados até mesmo dos mais insensíveis espectadores, os filmes guardam outra característica que os aproxima. O amor cortês - em que há uma testemunha ocular, que em algum momento da trama torna-se pivô de uma decisão - é usado como pretexto para falar de um nefasto hábito da condição do ser humano: a mentira.
Julieta crava um punhal no peito - na versão original; na contemporânea, se mata com um tiro na cabeça - porque não suporta a idéia de que seu plano secreto não chegou a conhecimento de Romeu. Isolda é obrigada a casar-se com o Senhor de seu grande amor, por ocultar de Tristão sua verdadeira identidade.
Há os que comumente dizem que foi o destino, obra do acaso ou algo que o valha. Não acredito. Temos inteira responsabilidade pelos nossos atos. Em ambos os casos, as protagonistas foram induzidas a mentir: Isolda foi persuadida pela ama a mentir o nome, por essa achar que seria perigoso revelar sua verdadeira identidade; Julieta foi convencida pelo padre, que o simulacro de sua morte, sem que ninguém exceto ele e Romeu soubessem, seria a única saída para um final feliz.
Pode parecer bobeira, mas imaginem como teria sido conduzida a história se os personagens citados acima não existissem e não tivessem realizado influência efetiva no direito ao livre arbítrio das protagonistas?
A idéia não é levantar bandeira, tampouco encontrar culpados. O fato é que o amor, colocado em primeiro plano nas histórias, é, em essência, mote para discutir a questão da mentira, do engano, nos dois casos, decorrentes de opções conscientes dos personagens.