quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Como não se comportar em uma entrevista - Parte 2

Trajada respeitosamente, diria meu avô, chego para mais uma entrevista. Sento-me e verifico se meu cofrinho está à mostra.
O examinador entra. Apresenta-se, como todo consultor que se preze, com simpatia exagerada. Um viadinho. Espera um pouquinho, não serei eufemática*. Uma bichona, gorda e mal vestida. E precisava de um tonalizante nos cabelos.
A entrevista segue bem, até que:
- O que você faz quando está nervosa?
- Espero.
- Espera o quê exatamente, alguém para que você desconte seu nervosísmo?
"Filho de uma prostituta, tá me encurralando", pensava enquanto sorria nervosamente para ele.
- Não! - respirei - espero o nervosismo, a raiva passar (e o ódio que eu estava sentindo dele naquele momento também).
- Tudo bem, tudo bem, o que eu quero saber é enquanto você espera, o que faz?
Àquela hora queria levantar, cuspir bem cuspido na cara dele e dizer: "olha aí sua bichona, é isso o que eu faço enquanto espero a raiva passar!". Desisti. Me enchi dele e daquelas perguntinhas típicas prá pegar tonto.
- Como minhas unhas - disse, sem piscar e exibindo, solerte, as minhas mãos e as unhas, uma a uma, roídas - é auto-mutilação; faz bem, fucniona como uma auto-punição por ter ficado com raiva, nervosa, enfim, perdido o controle.
Arregalou os olhos e escreveu alguma coisa na folha que estava bem na frente dele. Com certeza, algo do tipo: essa é louca, ou interditem essa candidata...
Acenou positivamente a cabeça e disse que a entrevista estava terminada.

Dois dias depois meu celular tocou e vi, pela bina, que era o telefone do tal consultor. Nem atendi. Óbvio que não fui contratada. Bláh!

*eufemático = termo cunhado em plena redação do Esquinas de S.P., que designa um sujeito muito cheio de dedos, ou seja, que usa muitos eufemismos, misturado com o cara fleumático.