quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Con(v)ivência

Eles estavam muito sem paciência um com o outro. A relação de sabe-se lá quanto tempo dava sinais de desgate. Ela não se lembrava mais de como tudo havia começado. Ele, nem ligava.
Não conversavam mais amenidades como antes, tampouco coisas sérias. Ficavam horas um ao lado do outro, sem dizer uma palavra sequer. Mas não era um silêncio cúmplice. Era puro desgosto.
Nos últimos meses não dividiam mais seus dias, suas minúcias, apenas o cigarro e o pacote de bolachas água e sal, que ele adorava e ela simplesmente não via a menor graça. Mas comia. A convivência estraga a paixão e assassina qualquer tipo de sentimento que se aproxime do amor.
Um dia ela acordou, olhou para o lado: vazio. Sentiu um alívio. Suspirou e levantou. Foi à sala e o encontrou vendo TV com os pés no sofá, prática que ela — como boa virginiana — abominava, ainda mais nele. Olhou por alguns minutos a cena. Ele esboçou algumas palavras, mas não passaram de rascunho para ela. Sentiu-se tão infeliz naquele momento. Pegou a bolsa, fez um aceno com a mão esquerda e disse que ia comprar cigarros. Nunca mais voltou.