sexta-feira, 31 de março de 2006

É o fim da picada!

Conceito elástico
Deu na revista jurídica Última Instância: Lugar onde clientes bebem e pagam por sexo não é prostíbulo, diz TJ-SP.
Qualquer um que tenha passado a infância e adolescência nas zonas do mais baixo meretrício apoia a decisão do Tribunal:
“Considerado, num país que tem um Congresso como o nosso, deve ser bastante elástico o conceito de putaria...”

Cão sem fucinheira - Homem fica 15 dias preso no Rio de Janeiro.
A moça ficou indignada:
“Focinheira com U? Esta eu nunca tinha visto. Espero que o redator seja mordido (levemente, vá...) por um rotweiller daqueles bem bravos!”
Moral da história: não se usa focinheira no Brasil porque muitos nunca ouviram falar em tal equipamento e alguns, quando o conhecem, nem sabem escrever o nome certo.

Márcio 2006 para presidente do Brasil
Tem gente importante sugerindo um novo nome para o PT lançar como candidato ao governo de São Paulo, ano que vem. O do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Essas pérolas, por assim dizer, foram emprestadas da coluna de Moacir Japiassu, para o site Comunique-se. Com licença e respeito, gostaria de engrossar o caldo:

Uma plaquinha resolveria o problema
Estava numa dessas viagens pelo interior do Brasil, quando já segurando o conteúdo da bexiga há mais de três horas, encontrei um posto próximo a Poconé-MT. Ao entrar no banheiro, para minha surpresa e motivo de riso contínuo pelas próximas duas horas, dei de cara com uma plaquinha: "Recopere com a limpeza, não cague no chão"
Moral da história: Se na próxima gestão presidencial, instituirem como lei colocar uma plaquinha dessas na entrada do Palácio do Planalto, quem sabe os freqüentadores parem de fazer cagada em qualquer lugar e resumam esse ato privado às suas respectivas privadas.

Obrigada!

quinta-feira, 30 de março de 2006

Canta à tua aldeia e cantarás ao mundo

Lançamento de livro é espaço de reflexão das diferenças na vida de cada um

“- Que é esse fumo, estrangeiro? É da Alemanha?
- É, é da Alemanha.Esse foi o começo de uma conversa que tive com um transeunte, em uma praça na cidade de Campinas, enquanto fumava meu cachimbo. Durante horas, o caboclo contou a sua história de vida. E tínhamos acabado de nos conhecer! Ao nos despedirmos, ele me deu a miniatura de uma panela de pressão, feita de lata de refrigerante. Aquilo tinha me tocado de alguma forma. Quando estava voltando para a Alemanha entrei no avião, cheio de alemães, e senti o choque cultural: as pessoas não se olhavam. Aí pensei que os alemães devem ser como panelas de pressão”.

Com humor o professor alemão da Universidade de Siegen (Alemanha) Bernd Fichtner iniciou a palestra referente ao lançamento do livro Diversidade Cultural – Globalização e culturas locais: dimensões, efeitos e perspectivas, de Leonardo Brant (org.), que aconteceu na Fnac – Paulista, na última terça-feira, às 19h. O livro é uma coletânea de textos produzidos a partir de 2002, com o objetivo de documentar discussões mundiais acerca da diversidade cultural e o espaço para o exercício da democracia, num mundo imerso em conflitos políticos e sociais.

Leonardo Brant é comunicólogo, formado pela Faculdade Cásper Líbero e se dedica desde 1999 à Rede Internacional pela Diversidade Cultural (RIDC), um orgão que visa representar a classe artística, ativistas e organizações culturais, propondo alternativas de espaços para a cultura, as artes e as relações humanas na era da globalização, em conferências anuais. Contudo, nem todos os textos são de integrantes da RIDC. “A idéia da diversidade transbordou e alcançou até o processo de seleção dos textos que formariam esse manual”, brinca Brant.

Na palestra, Bernd abordou a crise mundial da educação e qual a importância da diversidade cultural para reavaliar métodos clássicos educacionais ultrapassados, preocupados em ensinar conceitos, que servirão à sociedade, mas não propiciam a formação de um cidadão do mundo. “Escolas alemãs que desconstruíram a hierarquia professor-aluno, fomentaram no aluno o senso de responsabilidade em produzir e gerenciar o próprio conhecimento e tiveram resultados excelentes no processo de desenvolvimento da criança”, relatou o professor. “Nesse caso, a diversidade foi absorvida. A pedagogia ultrapassada se preocupa demais com conceitos. O que importa não são os conceitos, mas as relações que você é capaz de estabelecer com o diferente de forma igual”.

Na opinião de Bernd, a necessidade de diferenciar cultura e diversidade cultural é suprida no livro. “Aprendi com o livro que a diversidade cultural não está no mesmo nível do nosso conceito de cultura. Diversidade cultural tem a ver com propostas, posicionamento diante da vida, visão de mundo. Uma cultura tem muito mais a ver com fronteira, limites que entram em colapso na nossa consciência toda vez que nos defrontamos com outra cultura”, constata. “O livro não tem nada de acadêmico, por isso não é massante”, pontua o professor, “tem algo de provocativo que eu gosto muito e se aproxima de um manual com propostas das mais diferentes formas do exercício da democracia, num mundo onde a intolerância e o individualismo matam qualquer perspectiva de igualdade”, finaliza.

Em seguida, Leonardo Brant falou a platéia. Definiu o livro como “um espaço de reflexão, que fomente discussão, ou ainda, um instrumento de diálogo”. E acrescentou que o objetivo que carrega, ao assinar o livro é o de mudança na forma de encarar a vida. “Respeito com o diferente não é a palavra certa, celebração do diferente se ajusta mais a idéia de diversidade. Sentir o quanto a relação entre as pessoas podem potencializar uma ação, uma atitude,uma mudança. Multiplicar é a idéia. Deveríamos mudar a palavra individuo para ‘multivíduo’”, categorizou o autor do livro.

(Essa matéria foi publicada no site de Cultura da Faculdade Cásper Líbero, na terceira semana de setembro. O livro pode ser encontrado nas Livrarias Cultura e Fnac)

quarta-feira, 29 de março de 2006

Digite a senha, por favor

Sou metódica, confesso. Sistemática também. Compulsiva. E obcecada pela ordem. Concordo em gênero, número e grau com o fato de Deus ter transformado em sacramento essa prática tão essencial: a ordem.Tenho uma senha para cada segredo da minha vida. Dia desses – era uma terça feira, tola e nublada – como não haveria de ser diferente fui almoçar no restaurante do largo, no centro da cidade, próximo ao escritório onde trabalho. Restaurante por kilo.

Cheguei. Uma fila insana: cerca de 257 pessoas se amontoavam sobre os pratos, ávidas por uma colher de arroz ou uma coxa de frango. Um velho amigo me disse certa vez que restaurante self-service é a coisa mais grosseira que ele já viu, é a síntese da falta de educação. Ele tem razão. É o véio que tosse e cospe a dentadura na feijoada, é a perua que arruma as madeixas bem em cima do arroz – e caem algumas lêndeas, fruto dos sete dias que ela ficou sem lavar o cabelo para não estragar a chapinha nem desbotar a tintura –, é a gorda que pega oito bifes a milanesa, tem seus 5 minutos, quando sente-se culpada por trair o regime, morto na mesma segunda-feira que nasceu – e devolve cinco, por um acaso sujos do molho agridoce que ela colocou na salada. Ai, ai...Devaneios de uma baixaria.

Enfim, com algum esforço e certa persistência consegui fazer um prato razoável. Pesei e fui até uma mesa vazia, a única no cantinho do segundo andar do restaurante. Após a refeição, me dirigi ao caixa com a comanda em mãos. (Bati na testa). Abri a carteira e tinha apenas uma nota de cinco reais. É uma miséria mesmo. Afinal de contas eu ganho R$ 2,75 por hora. A mocinha do caixa percebeu meu desajeito e logo se antecipou em dizer que eles aceitavam todos os tipos de cartão, menos cheque. “Até o visa electron?”, perguntei. Ela acenou com a cabeça positivamente. Problema resolvido.Engano o meu. Ele começara ali, naquele momento. Passa o cartão. Digita, durante uns 5 minutos códigos aos borbotões: é o número da conta, da agência, a senha da máquina e o código do banco. Volta-se para mim e diz: “Digite a senha, por favor!”. Vamos lá. Só naquela manhã, tive que usar cinco senhas diferentes: para fazer uma consulta ao banco on-line, o meu login no computador, a minha senha de acesso a internet, a senha para o telefone do escritório dar linha – é o fim da picada, eu sei! É o novo PABX protegido com sua super senha de 12 números, sem repeti-los (háhá, pergunte-me como) – e a senha do e-mail. Olhei para a máquina. Ela olhou para mim e piscava psicoticamente: “A senha! A senha!”. A tonalidade verde daquela tela me deu náusea. De repente, um branco. Apagou tudo da minha memória. Que agonia! Como é que era mesmo a senha do cartão? 1279...não, não! 1259...ai...não não! Comecei a puxar os aniversários da minha família inteira na memória. Será que esta senha é a do aniversário da minha avó, ou do da minha cachorra, ou do dia que eu tomei um fora – essa ninguém esqueceria! A mocinha olhava, um sorriso falso, ansiosa para que eu saísse dali logo. A fila aumentava em progressão aritmética. Comecei a suar frio. Não lembrava. Não conseguia lembrar a maldita senha.

Olhei para a moça: “Paciência!”. “A senhora vai ter que pagar!”. Ai, que pressão. Essas mocinhas do caixa são muito insensíveis, sem coração. Propus se eu não poderia lavar uns pratos, sei lá...Ela disse terminantemente que não. Aí veio uma luz. Não, não foi desta vez que eu lembrei a senha, mas tive a brilhante idéia de fazer uma proposta: “Vou deixar meu RG como garantia de que voltarei para pagar”. A mocinha do caixa titubeou, olhou com desconfiança para a minha barganha. Aí eu cresci. Já estava tão prostituta dessa minha existência que fiquei valente: “ô minha filha, você acha mesmo que eu vou deixar minha identidade aqui eternamente?”. Ela olhou com ar de desprezo: “Você só pode estar louca!”. Joguei minha identidade no balcão, dei de ombros e fui embora. Fui embora com dor de cabeça, estressada, p. da vida, sem senha e sem documento. Por que comecei mesmo a contar tudo isso? Esqueci!

terça-feira, 28 de março de 2006

O vôo da borboleta

Os encontros eram cada vez mais freqüentes. Às cinco e meia da tarde, quando o sol já estava baixo, nos encontrávamos. E conversávamos a noite toda, distraídos e cada vez mais atraídos. Ele muito me respeitava e pouco questionava. Colocava sua mão sobre a minha, sempre respeitando o limite de dois palmos entre nós, que eu mesma havia estabelecido.
Chegava bem cedinho em casa, andando nas pontas dos pés para não matar o sono tranqüilo dos meus pais. Dormia e quase não conseguia mais diferenciar o dia e a noite, o sonho e a realidade. Perdi o apetite. Não via mais graça em tudo aquilo que não tivesse ele. As minhas roupas começaram a ficar velhas e desengonçadas. Ficava esperando o sol ir embora para com a chegada da lua poder encontrá-lo.
Os últimos dias não tinham sido muito fáceis. Andava triste e angustiada. Roía as unhas até sangrarem e depois me sentia uma tola. Minha mãe, preocupada, me perguntava todo dia o que estava acontecendo comigo. Meu pai só olhava e pedia para ela ficar calma. "Ela está apaixonada. Coisa de criança!". Geralmente os pais ficam com ciúmes ao verem as filhas amando pela primeira vez. No meu caso, acho que ele pensava ser tudo fantasia.
Aquela terça-feira foi diferente. Eu estava me sentindo diferente, não sei. Por um momento, meus pés saíram do chão. Fiquei sem rumo, sem referência. O encontro, aquela noite, foi especial. Tudo igual. Cheguei para encontrá-lo, pontualmente; sentamos no sofá e ele me contou como foi o seu dia - eu não quis falar. Sentia alguma coisa estranha em mim. Um calafrio da raiz dos cabelos até a ponta do dedão do pé. Tirei o casaco.
- Que estranho, de repente ficou calor.
Ele riu, depois saberia, da minha inocência. Passou a mão no meu rosto com ternura.
- Comprei uma rede. É amarela, sua cor preferida.
- Que linda! Na feirinha da praça?
- Isso mesmo. Vamos lá na varanda prá ver?
Não disse nada apenas aceitei. Ofereceu sua mão direita para me amparar e me abraçou. Foi o primeiro contato corpo a corpo após meses. Eu permiti, porque achei que era chegada a hora.
Não lembro de mais nada, só de um formigamento nas pontas dos dedos. Que boa sensação aquela. Na quarta-feira já não era mais a mesma.
Fui para casa antes de amanhecer. No café-da-manhã, minha mãe me esperou com uma linda caixa de presente.
- Achei que você andava tristinha, filha. - e me deu o pacote
Tirei o laço lilás e rasguei o embrulho prateado. Era uma boneca. Não consegui agradecer. Achei que minha mãe teve uma atitude infeliz. Sorri:
-Mamãe, não quero mais bonecas; eu quero um jogo de panelas.

Amor deveria ser sempre amor, ora bolas!

(agradecimentos a Kelly Schwarz que escreveu comigo esse texto)

Lembro com carinho daquele tempo. Ainda era um pivete. Todos os dias esperava ela voltar da escola. Éramos vizinhos. Não dizíamos uma única palavra. De mãos dadas passeávamos no andar térreo do prédio. Imaginávamos estar nos lugares mais inusitados. Uma praia, um parque, um castelo, um moinho de vento...Acho que ela imaginava a mesma coisa que eu. Sentávamos no banco e ficávamos nos olhando durante horas! Era tão bom!E nem precisávamos falar nada.

Tomar “sorvete de bola” então era sempre uma diversão. Com a boquinha lambuzada ela ficava mais linda ainda, e eu, cada vez mais bobo. Sempre caíamos na gargalhada, até perder o fôlego, até a barriga doer. Era só a presença dela que me importava. Não precisávamos falar nada.No final de tarde voltávamos para casa e eu, cavalheiro, a acompanhava até a porta de sua casa. Dava-lhe um beijo no rosto. Ela segurava minha mão com força, me olhava e os dedos iam deslizando até que se separavam. Esperava eu entrar no elevador, a porta se fechar até que não me visse mais. Um dia isso realmente aconteceu!

Está muito quente nesse final de tarde. Volto para casa e sei que alguém me espera. Queria convidá-la para um passeio no parque ou quem sabe para tomar um “sorvete de bola”, mas sei que ela vai rir de mim. Da minha infantilidade e da minha primitiva e singela demonstração de carinho. Ora bolas, essa era a minha referência de amor. E ela não entende!

Hoje é necessário ter muito o que dizer para provar o amor. Eu acho que era muito mais verdadeiro antes: o amor deve ser simples. E se dividir uma bola de sorvete, andar de mãos dadas, olhar nos olhos o silêncio e o grito ou rir com o outro até doer a barriga não for amor, eu sinceramente não sei o que é!A espera diária sempre infinita, mas certa, me faziam feliz a cada dia. E o que alimentava aquela sensação ímpar era saber que o sorvete de bola não derreteria nunca antes dela chegar. Hoje é preciso tudo explicar a pessoa amada. Homem e mulher se casam, procuram dinheiro, sexo, porquês e vivem numa conjugal solidão. E se amar antes era simples, hoje amar é por quê. Tenho saudades! Por quê?