terça-feira, 28 de março de 2006

Amor deveria ser sempre amor, ora bolas!

(agradecimentos a Kelly Schwarz que escreveu comigo esse texto)

Lembro com carinho daquele tempo. Ainda era um pivete. Todos os dias esperava ela voltar da escola. Éramos vizinhos. Não dizíamos uma única palavra. De mãos dadas passeávamos no andar térreo do prédio. Imaginávamos estar nos lugares mais inusitados. Uma praia, um parque, um castelo, um moinho de vento...Acho que ela imaginava a mesma coisa que eu. Sentávamos no banco e ficávamos nos olhando durante horas! Era tão bom!E nem precisávamos falar nada.

Tomar “sorvete de bola” então era sempre uma diversão. Com a boquinha lambuzada ela ficava mais linda ainda, e eu, cada vez mais bobo. Sempre caíamos na gargalhada, até perder o fôlego, até a barriga doer. Era só a presença dela que me importava. Não precisávamos falar nada.No final de tarde voltávamos para casa e eu, cavalheiro, a acompanhava até a porta de sua casa. Dava-lhe um beijo no rosto. Ela segurava minha mão com força, me olhava e os dedos iam deslizando até que se separavam. Esperava eu entrar no elevador, a porta se fechar até que não me visse mais. Um dia isso realmente aconteceu!

Está muito quente nesse final de tarde. Volto para casa e sei que alguém me espera. Queria convidá-la para um passeio no parque ou quem sabe para tomar um “sorvete de bola”, mas sei que ela vai rir de mim. Da minha infantilidade e da minha primitiva e singela demonstração de carinho. Ora bolas, essa era a minha referência de amor. E ela não entende!

Hoje é necessário ter muito o que dizer para provar o amor. Eu acho que era muito mais verdadeiro antes: o amor deve ser simples. E se dividir uma bola de sorvete, andar de mãos dadas, olhar nos olhos o silêncio e o grito ou rir com o outro até doer a barriga não for amor, eu sinceramente não sei o que é!A espera diária sempre infinita, mas certa, me faziam feliz a cada dia. E o que alimentava aquela sensação ímpar era saber que o sorvete de bola não derreteria nunca antes dela chegar. Hoje é preciso tudo explicar a pessoa amada. Homem e mulher se casam, procuram dinheiro, sexo, porquês e vivem numa conjugal solidão. E se amar antes era simples, hoje amar é por quê. Tenho saudades! Por quê?

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