quinta-feira, 30 de março de 2006

Canta à tua aldeia e cantarás ao mundo

Lançamento de livro é espaço de reflexão das diferenças na vida de cada um

“- Que é esse fumo, estrangeiro? É da Alemanha?
- É, é da Alemanha.Esse foi o começo de uma conversa que tive com um transeunte, em uma praça na cidade de Campinas, enquanto fumava meu cachimbo. Durante horas, o caboclo contou a sua história de vida. E tínhamos acabado de nos conhecer! Ao nos despedirmos, ele me deu a miniatura de uma panela de pressão, feita de lata de refrigerante. Aquilo tinha me tocado de alguma forma. Quando estava voltando para a Alemanha entrei no avião, cheio de alemães, e senti o choque cultural: as pessoas não se olhavam. Aí pensei que os alemães devem ser como panelas de pressão”.

Com humor o professor alemão da Universidade de Siegen (Alemanha) Bernd Fichtner iniciou a palestra referente ao lançamento do livro Diversidade Cultural – Globalização e culturas locais: dimensões, efeitos e perspectivas, de Leonardo Brant (org.), que aconteceu na Fnac – Paulista, na última terça-feira, às 19h. O livro é uma coletânea de textos produzidos a partir de 2002, com o objetivo de documentar discussões mundiais acerca da diversidade cultural e o espaço para o exercício da democracia, num mundo imerso em conflitos políticos e sociais.

Leonardo Brant é comunicólogo, formado pela Faculdade Cásper Líbero e se dedica desde 1999 à Rede Internacional pela Diversidade Cultural (RIDC), um orgão que visa representar a classe artística, ativistas e organizações culturais, propondo alternativas de espaços para a cultura, as artes e as relações humanas na era da globalização, em conferências anuais. Contudo, nem todos os textos são de integrantes da RIDC. “A idéia da diversidade transbordou e alcançou até o processo de seleção dos textos que formariam esse manual”, brinca Brant.

Na palestra, Bernd abordou a crise mundial da educação e qual a importância da diversidade cultural para reavaliar métodos clássicos educacionais ultrapassados, preocupados em ensinar conceitos, que servirão à sociedade, mas não propiciam a formação de um cidadão do mundo. “Escolas alemãs que desconstruíram a hierarquia professor-aluno, fomentaram no aluno o senso de responsabilidade em produzir e gerenciar o próprio conhecimento e tiveram resultados excelentes no processo de desenvolvimento da criança”, relatou o professor. “Nesse caso, a diversidade foi absorvida. A pedagogia ultrapassada se preocupa demais com conceitos. O que importa não são os conceitos, mas as relações que você é capaz de estabelecer com o diferente de forma igual”.

Na opinião de Bernd, a necessidade de diferenciar cultura e diversidade cultural é suprida no livro. “Aprendi com o livro que a diversidade cultural não está no mesmo nível do nosso conceito de cultura. Diversidade cultural tem a ver com propostas, posicionamento diante da vida, visão de mundo. Uma cultura tem muito mais a ver com fronteira, limites que entram em colapso na nossa consciência toda vez que nos defrontamos com outra cultura”, constata. “O livro não tem nada de acadêmico, por isso não é massante”, pontua o professor, “tem algo de provocativo que eu gosto muito e se aproxima de um manual com propostas das mais diferentes formas do exercício da democracia, num mundo onde a intolerância e o individualismo matam qualquer perspectiva de igualdade”, finaliza.

Em seguida, Leonardo Brant falou a platéia. Definiu o livro como “um espaço de reflexão, que fomente discussão, ou ainda, um instrumento de diálogo”. E acrescentou que o objetivo que carrega, ao assinar o livro é o de mudança na forma de encarar a vida. “Respeito com o diferente não é a palavra certa, celebração do diferente se ajusta mais a idéia de diversidade. Sentir o quanto a relação entre as pessoas podem potencializar uma ação, uma atitude,uma mudança. Multiplicar é a idéia. Deveríamos mudar a palavra individuo para ‘multivíduo’”, categorizou o autor do livro.

(Essa matéria foi publicada no site de Cultura da Faculdade Cásper Líbero, na terceira semana de setembro. O livro pode ser encontrado nas Livrarias Cultura e Fnac)

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