terça-feira, 29 de maio de 2012

Por que não devemos ler e-mails antigos?

O ser humano é apegado. Não consegue se desprender de nada. Sentimentos, emoções, coisas materiais, documentos... Quem não tem o hábito de deixar arquivados e-mails antigos? Pode até deixar, sei lá, por precaução, se no registro contiver algo que pode te salvar ou mesmo ser usado contra você, até vai. Mas um alerta: nunca leia e-mails que datam quatro anos atrás, por exemplo. Vale para cartas também, embora eu tenha certeza de que só eu ainda escrevo e mando cartas...enfim, sejam cartas ou e-mails: não recupere. Não faça essa bobagem! O melhor é fazer o exercício de apagar. Os enviados, sobretudo. Faça esse exercício: é libertador.
Caso contrário, você, uma hora ou outra vai voltar para essas caixinhas antigas, vai reler e vai perceber que perdeu o cara da sua vida, porque pensou que ele era seu amigo, mas na verdade ele sempre quis ser seu namorado (acontece...). Você vai achar que era mais realizada e bem sucedida no trabalho, mesmo sendo uma grande mentira. Você vai achar que era mais livre, mais bonita e tinha mais amigos, o que pode até ser verdade. Mas, afinal, para que saber? Para que mexer em uma memória que ficou justamente ali, para ser lembrada remotamente, jamais revivida, digerida novamente. Dá indigestão esse tipo de coisa.

O que ficou no passado não foi para lá e ficou à toa. Tem sempre uma razão. Sempre que nos deparamos com escritos antigos, sejam de amigos ou amores (ou os dois ao mesmo tempo), nos dá a impressão que era perfeito. Mas então por que não deu certo? Com certeza, porque não era tão perfeito assim... E ficamos com a sensação do ideal. E aí, quando comparamos com o real, o ideal ganha disparado. E aí ficamos vivendo patinando nesse passado lamacento e irreal, que deveria ter ficado alí, para trás, no lugar dele. E nos iludimos que poderia haver um futuro se algo fosse recuperado. Bobagem! Não dá pra pegar as declarações passadas e colocar no presente. Não combina, não dá jogo, não dá liga. A história é outra, as pessoas são outras, o momento é outro.

Mesmo porque há uma dose forte de pretenso controle do futuro ao fazer isso. É mais seguro saber que você terá uma segunda chance e que poderá fazer diferente (ou fazer tudo igual e ter um resultado diferente). É reconfortante, né? Mas, de uma forma geral e na maior parte das vezes, a vida não dá uma segunda chance. Quando (e se) der, aproveite! Porque tá cheio de gente por aí que tem até terceira e quarta chance e joga no lixo. Esses sim, os patinadores no lamaçal de amargura do passado.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Solidão

Ela vivia em um apartamento em uma cidade grande, morava sozinha, tinha um bom emprego, tinha alguns amigos. Cursou uma boa faculdade. Com alguns amigos dessa época ela ainda tinha contato. Era um pouco misteriosa, não era afeita a barzinhos, mas gostava de baladas. Algumas. Tinha um passarinho azul de peito branco que chamava carinhosamente de Dó. Mas era por causa da primeira nota musical.

Vivia sua vida de maneira correta. Ou ao menos tentava. Se envolvia casualmente com alguns caras, mas nenhum dos casos durava mais de dois meses. Ela não se importava. Sempre havia alguém novo e disposto a conhecê-la. Ela era muito bonita, chamava a atenção de homens e mulheres. Gostava de se cuidar. Tinha os cabelos longos, negros, pele bem branca, olhos verdes. Era agradável, não muito sorridente, contudo simpática.

Sua semana era organizada entre trabalho, afazeres domésticos, cinema e livros que sempre ficavam por terminar na sua cômoda. Ela tinha o hábito de começar uma história e quando estava do meio para o fim iniciar  outro livro, deixando aquele por terminar.

Pagava suas contas em dia, era muito bem quista pelos vizinhos e nunca tinha recebido qualquer reclamação. Vivia, na verdade, em um pleno silêncio na maior parte do tempo.

Um dia ela se matou. É, banal assim mesmo, porque o fim das coisas quase sempre é banal. Saiu de casa, foi ao supermercado comprar algumas coisas e na volta parou e contemplou o pôr do sol. Deixou as sacolas por um instante de lado e saltou do viaduto. Todos ficaram sem entender. Mas se matou por que?

Solidão.

Há quem não suporte a solidão e enlouqueça, andando por aí falando aos quatro ventos sem qualquer interlocutor nas ruas das grandes cidades, em praças e supermercados 24 horas. Há quem goste tanto dela, que fique fissurado a ponto de escolhê-la para sempre.

Nota: Qualquer semelhança com alguma história que conheçam é mera coincidência. Apenas coincidência...