quinta-feira, 26 de julho de 2007

Eu tenho pena de mim

Eu tenho pena de mim, porque eu vivo no Brasil.

Forte isso não? É com isso que tenho tomado contato nesses últimos dias frios de julho. Acontecimentos fortes, declarações fortes, acusações fortes, dor forte e sujeira, muita sujeira forte, que nem com muita cândida é possível remover. Por isso, optei por um início de texto igualmente forte, proporcionalmente violento.

Poderia relatar o lamentável desatre aéreo do qual fomos espectadores há pouco mais de uma semana. Poderia elencar os possíveis fatores que culminaram no acidente que vitimou quase 200 pessoas. Poderia listar os prováveis culpados e de quebra dar sugestões de castigos para os infelizes. Poderia propor uma reflexão acerca do sofrimento de todos que perderam seus amigos, seus amores, seus pedaços de vida e, que em muitos casos, não conseguirão tampouco um vestígio, ainda que da morte, da pessoa para cumprir o ritual cristão de enterrar seus mortos.
Mas no país em que a maior parte dos verbos proferidos pelas autoridade termina em 'ria', resolvi variar.

Há que se separar o joio do trigo, para usar uma desgastada citação bíblica. Mas não vejo trigo, apenas joio. E um joio fedido e podre.

Com mais essa catástrofe que tirou a vida e o sorriso de mais de uma centena de brasileiros, percebo, cada vez mais claramente, que tenta-se curar uma ferida aberta não identificada e de forma não assertiva. O Brasil sofre de uma doença que encheu de escaras a governabilidade do país. A nação verde-amarela está sem administração. Essa é a ferida aberta e pustulenta. E ela é que gera tantos outros problemas, que vemos diariamente no noticiário, nos comentários de qualquer idiota com um mínimo de consciência na fila do supermercado.

Essa é a reação em cadeia. Uma doença leva a outra. Escaras que não se curam, viram feridas ainda maiores, que enchem de bactérias e podem colocar fim ao organismo em questão.

Fala-se da pista, do avião, de contigente dos aeroportos desse gigante país, mas pouco se fala que toda essa lambança, toda essa crise vem de lá longe. Pouco se fala que o aparelhamento do Estado imposto pelo digníssimo sr. presidente Lula, tirou de cargos que exigem especialidade os profissionais e os encheu de políticos. De comadres e compadres, como dizem aqui no interior, que comem churrasco com o presidente na Granja do Torto. Nada contra churrasco, é claro. Ainda mais porque deve rolar só picanha das boas. Ao menos nosso dinheiro, nesse caso, está sendo bem investido.

domingo, 8 de julho de 2007

A moto seguia em alta velocidade pela estrada, à esquerda da pista. Estrada boa! Duplicada, pista recapeada recentemente. Rumava a esmo. O farol apagado: não queria ser notado. Cem metros adiante, na mesma estrada, um treminhão transportava toneladas de cana. Queria chegar logo, mas tinha consciência que seu lugar era ali, à direita. Mas viu um obstáculo, não conseguia identificar. Deu luz alta e nada. Saiu para a esquerda, afinal, o espelho retrovisor dizia que ninguém vinha atrás. A moto pensou que dava tempo e resolveu nem avisar. Não deu. Um barulho. O caminhoneiro nem ligou, pensou que alguma feta de cana caíra no chão. Mas um barulho de ferro arrastando mantinha-se insistente. Foi para o acostamento e o que viu foi horror: um caminho de sangue, que terminava na sua terceira carreta, onde havia também pedaços de ferro preso e pedaços humanos.
Vomitou. Tentou desvencilhar o caminhão daqueles restos. Na seqüência, um ônibus passava. Reduziu a velocidade e baixou os faróis, na tentativa de saber o que havia ocorrido. A cena chama atenção de uma passageira do ônibus, que se aproxima da janela. O que se ouve é um grito de pavor. O boné, os pedaços de camiseta e a placa da moto: era seu o sangue derramado pela estrada. Seu filho era quem dirigia a moto.