segunda-feira, 1 de maio de 2006

Uma viagem ao inferno

Uma reconstrução do horror causado pela bomba atômica. Um retorno, 40 anos depois do episódio, resgata a identidade de alguns sobreviventes. Um livro histórico e de narrativa literária, é compreensível “Hiroshima” ser considerado um dos mais importantes livro-reportagem do século XX.
O autor John Hersey deixa transparecer a posição favorável ao “new journalism” e dá uma aula de como fazer esse jornalismo mais emocional e literário, e menos técnico, sem, evidentemente, esquecer da ética e da importância da apuração idônea na produção jornalística.
Por que o livro é uma referência? Primeiro pelo caráter de projeto que ele adquiriu: foi uma reportagem que o perseguiu e certamente o marcou para o resto da vida. Segundo, porque subverte a ordem das coisas, que se convencionou chamar de correta quando se trabalha a informação. Mostra, portanto, que a equação não se fecha: há muitas possibilidades de se dizer algo há alguém, mesclando objetividade jornalística com a subjetividade do ser humano.
Não se atém a teorias, a especulações, a juízo de valor: simplesmente expõe os fatos e os descreve. Como quem teve contato direto e conseqüente envolvimento com aqueles que viveram na pele, os dias de tensão antes e depois do lançamento da bomba atômica, que punha fim a Segunda Guerra Mundial, o seu texto acaba adquirindo um caráter bastante emocional, o que o torna interessante. Por esse motivo, Hersey obtém sucesso ao narrar o inenarrável.
Seu ponto de partida são seis vidas, todas habitantes de Hiroshima, contudo, com trajetórias distintas e bem particulares. O curioso, é que, ao penetrar na vida de cada um desses personagens da vida real, Hersey mantém um afastamento da própria narrativa. A partir da caracterização dos tipos e costumes de cada um, percebe que os personagens contarão a história. A ele, cabe apenas a tarefa de pô-la no papel.
Descrição apurada, construção textual que permite o acesso irrestrito e de fácil compreensão. O fato de apresentar os personagens, esmiuçar suas vidas a fundo, cria a empatia com o leitor, para que esse, a cada página virada, deseje não parar. Essa é a chave do livro: as páginas do livro passam diante dos olhos como filme e emocionam, pois nos transportam, ainda que seja um pouquinho, para um genocídio sem precedentes, deferido por um dúbio ser chamado humano, que se mostra tão cruel, egoísta e, paradoxalmente, tão solidário.

Resenha do livro Hiroshima, de John Hersey

Um comentário:

Unknown disse...

Eu sumo mas eu volto. Para ler, escrever e, juro-te, para responder seu e-mail.

beijão e lasca texto pra gente.