sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Alô? É o passado

Ficaram alguns meses sem notícia um do outro. Até que ele ligou para pedir uma ajuda: queria mudar de emprego. Da relação tinha ficado uma amizade muito bonita:
- Alô?
- Oi. Sou eu, tudo bem?
Na mesma hora, teve a sensação de ter o seguinte diálogo:
- Alô?
- Oi. Aqui é seu passado.
Achou que estava ficando maluca. Respirou e retomou a conversa:
- Oi. Tudo sim. Que surpresa essa ligação.
Ela tinha saudade dele. Não daquela relação homem-mulher, mas da amizade. Ela queria muito que ele fosse feliz.
- Estou precisando de uma força. Querendo procurar um trabalho melhor. Pensei que você podia me ajudar.
- Mas é claro.
E os dois conversaram. Riram e, no final, a pergunta:
- Mas, afinal, como você está?
- Ah, to feliz, mudei de casa, estou morando com uma garota legal...
Ela ficou muda. Achou que aquele sentimento estava no passado. Sentiu-se mal, tateou a mesa para procurar algo inexistente e acabou puxando uma cadeira.
- Que bacana! Parabéns. Se você está feliz é isso o que importa - disse muito sem graça.
Se despediram. Desligaram. Ela chorou. Sentiu vergonha. Ela não chorava por ainda amá-lo. Isso tinha ficado no passado. Ela chorava pelas escolhas que tinha feito e, agora, se arrependia. Pensou num outro diálogo possível com o passado:
- Alô?
- Oi. É o passado.
- Xô. Não quero mais falar com você, passou...
Mas isso não lhe era possível. O sentimento tinha invadido sem que ela permitisse. Ficou pensando que novamente havia sido preterida para realizar um de seus sonhos. O desejo dela, o que eles tinham planejado, estava acontecendo, mas com outra pessoa. Não era do sentimento por ele que ela tinha saudade. Mas dos planos. Ficou mastigando aquele 15 de julho, quando ele a procurou:
- Acho que poderíamos retomar, não sei...gosto de você. Ainda. Muito.
Ela não o deixou terminar de falar. Estava encantanda por outro alguém e simplesmente desprezou a oportunidade, que diferente da maior parte das vezes, aparecia novamente diante dela.
- É. Estou com outra pessoa. Na verdade, acho que a gente passou.
E agora sofria em pensar que havia feito a escolha errada. Porque o alguém pelo qual ela havia trocado ele, tinha feito a mesma coisa. Ou pior. Ela continuava sonhando as coisas para que outras pessoas realizassem no seu lugar.

4 comentários:

Gizelda disse...

Triste, mas bonito!

Jornalista Roberta Migliolo disse...

caramba!!!! de boca aberta por tudo, literalmente tudo.
bj

2edoissao5 disse...

mas isso é amor? ou medo da solidão?

Maria do Mundo disse...

por certo medo da solidão! é como está escrito: nessa história, o amor já tinha acabado. O problema é que algumas pessoas não conseguem entender que coisas acabam para que outras novas comecem. e sempre se colocam nesse eterno e extenuante vaivém
Rô e Gizelda, valeu pela visita!