sexta-feira, 15 de julho de 2011

Remédio para um coração despedaçado

Um coração despedaçado entrou numa loja onde se vendia tudo que se pode imaginar em busca de conserto. Pegou a senha. A fila estava enorme. Ao chegar no balcão, olhou no crachá do atendente e estava escrito "Bom Conselho". Achou engraçado, um tanto quanto presunçoso, mas seguiu:
- Boa tarde, Seo Conselho, tem algo aí para um coração despedaçado?
- É vejo que o senhor está bem arrebentado. O que foi? Amor platônico, não correspondido, traído...
Interrompeu, pois o Conselho jamais adivinharia o problema daquele Coração:
- Amor não assumido.
- Uma fita crepe?
- Já tentei. Ela cedeu.
- Talvez algo mais forte, um superbonder?
- Vixi, nem te conto...esse me machucou mesmo. Porque colei forte, mas eu não resisti. E quando quebrei de novo, até arrebentou um pedacinho aqui ó - apontei mostrando para o Conselho meu ombro esquerdo.
- Uma muleta pode te ajudar ao menos a andar melhor...
- Também não dá certo. É paliativo e não conserta de vez. E o pior, ficaria mal acostumado.
- hum...cachaça?
- Ai, já tentei também. Me dei mal. Tá vendo esse buraco aqui? - apontei para meu estômago - então, úlcera que não virou cirrose por um triz...
- Entendo... - com certo ar de complacência, mas já sem paciência.
- O senhor não pode vir comigo?
- Eu?
- Sim, o senhor, Seo Conselho? Poderia me dar boas dicas...
- Conselho não se compra, nem se vende. Conselho apenas mostra possibilidades. Ao menos no meu caso, que sou o Bom Conselho.
O coração ficou calado, fitando aquele bom conselho, que tinha um ar intrigado, mas foi certeiro.
- O tempo. A solução para você é o tempo.
Quando fui questionar que não daria para viver daquele jeito, ele me interrompeu:
- Calma! Para seguir nessa jornada você vai precisar de algumas coisinhas.
Virou-se e foi até uma prateleira.
- Uma boa dose paciência para esperar; um potinho de lágrimas, porque uma hora ou outra você vai chorar; inúmeros sacos de risada, para compartilhar com seus amigos e perceber que a vida é boa demais; e um espelho.
- Um espelho?
- Sim, para você olhar sempre e perceber o quão lindo e especial você é. E dessa forma, recuperar o amor-próprio e aí então decidir se ainda quer que a espera te acompanhe ou se ela já pode seguir.
- Mas isso demoraria quanto?
- Depende do quanto vai levar para cicatrizar.

Pegou todas as coisas, passou no caixa e seguiu o caminho, ainda catando os pedaços, que vez ou outra se desprendem do corpo, mas ao menos um pouco mais fortalecido.

5 comentários:

Fábio Guedes disse...

Muito bom, Tetê! Eu ainda estou na fase cachaça...rs... bjs

Anônimo disse...

Triste passar mto tempo procurando muletas. Aprendi a ter paciência para que o tempo ajude. O melhor remédio, sem dúvida. Mto bom, TT. Bjs!
APR

Cris( amiga da marilia) disse...

Tetê...amei...arrasou..agora quero ler os outros!!!
bjão

Anônimo disse...

A confusão entre primeira e segunda pessoa, demonstrada pelo narrador, mostra com grande realismo como é ser inseguro e esquizofrênico!

Parabéns Tetê!

Maria do Mundo disse...

Queridos, obrigada pelas mensagens! Último anônimo, obrigada mesmo pela crítica..nem tinha notado...foi um erro mesmo...mas gostaria, por favor, que você assinasse o coment da próxima vez! ok? beijos