sexta-feira, 6 de maio de 2011

O expulso

Ele colecionava conquistas. Antes se sentia inválido e rejeitado. De repente, como num passe de mágica, passou a ser o conquistador. As mulheres caíam aos seus pés. Ele passou a se sentir desejado e amado. Mas eram relações superficiais. Não passavam de algumas saídas. Era o que alimentava a sua frágil e recém conquistada segurança. E que o tornava ainda mais covarde.

Continuava vazio. Sempre vivera daquela forma. O destino o levou até aquele momento. Ele não teve capacidade, em toda a sua vida, de fazer uma escolha sequer. Até as decisões mais importantes, que pareciam terem sido opções dele, eram circunstanciais, fruto de situações inevitáveis. Era justamente a falta de opção. Ele se deixava levar. E em se deixando levar, nunca havia vivido algo verdadeiro. E passara a vida inteira na tentativa de mostrar para os outros que estava conseguindo ser uma pessoa realizada.


Naquele momento de alta cotação no mercado de relacionamentos, passou a investir no sexo diversificado. Chegou a acreditar piamente que a rotatividade da cama dele iria resolver os problemas que carregava desde o final da adolescência. Quiçá, desde a infância, com uma mãe autoritária e superprotetora.

Mas, com o tempo, aquele vazio não passava. E o fato de, na verdade, ele nunca ter gostado nem dele mesmo, passou a ficar cada vez mais forte. A única verdade é que ele não se aceitava. Tentava, ao se deixar levar, se expulsar de si mesmo. Tendo o destino como o responsável pela sua vida, tirava das suas costas o peso de qualquer decisão.

Foi percebendo que não estava feliz. Não era e nem nunca tinha sido feliz, nem por um instante. A busca o acompanhou por toda a vida. Apenas no leito de morte teve sua revelação. Naquele lugar, decidiu morrer. A morte, ao que parece, não é algo que decidimos. Mas nesse caso aconteceu. E, já morto, percebeu que sua primeira e única opção em vida tinha sido mais uma vez motivada pelas mesmas razões de suas não escolhas: pelo desejo de se livrar de si mesmo.

2 comentários:

Luiza Silvestrini disse...

Nossa! Que sensação estranha. Eu quase pude ver uma pessoa que eu conheço enquanto lia seu texto, Tetê! Sinal que deve ter muita gente assim no mundo...

MAC Amaral disse...

Tete...
Ainda bem que voce notou que a personagem não é capaz de gostar nem dela e por isso não tem como gostar de ninguém.
O amor primeiro tem que ser o amor proprio, o que nos ensina os nossos limites e faz perceber os limites nos outros.
Além disso, como diria o Gato de Botas in Alice no país das Maravilhas "Pra quem não sabe onde vai, qualquer caminho serve"

Luiza, não tenha duvidas que existe esse tipo de pessoa aos milhões. E cuidado, pois todas são traiçoeiras, pois por não saberem sonhar essas pessoas roubam os sonhos dos outros e vivem de puxar o tapete alheio pensando ser o seu.

Mas a regra de ouro para se livrar de uma pessoa dessas é sempre epdir a sua opinião, querer saber o que faria em determinada situaçao, ou como agiria se fosse voce.
Se afastam rapidamente, pois estará oferecendo a unica coisa do mundo que nào querem: se conhecer