quinta-feira, 14 de abril de 2011

Sessão de terapia

Ela entra deseperada e senta no sofá, diante do psicólogo, para mais uma sessão:
- Estou preocupada. Bastante. Aliás, muito! Como andei muito frágil nesses tempos, falando demais, acho que todos estão me traindo, todos falam pelas costas...
- É uma forma muito 'persecutória' de ver a vida, não acha?
- Mas não é possível. Eu tenho certeza que o meu amigo disse as coisas que confidenciei. Eu tenho certeza. E agora, possivelmente, o encanto se quebrou por ele não me achar mais digna de confiança.
- Você nunca vai saber.
- Como? Nunca? E se eu perguntar?
- Vai continuar sem resposta. As pessoas falam o que elas querem e do jeito que elas querem, não necessariamente a verdade. O pensamento pode ser parcial, mas a partir do momento em que ele é verbalizado e processado, pressupostos e interesses ficam mais fortes do que qualquer outra coisa e a pessoa diz apenas o que ela quer que você saiba.
- Eu tenho o péssimo hábito de acreditar nas pessoas...
- Isso não é hábito. Isso é inerente a qualquer relação. Confiar é o que faz com que uma relação de amizade comece, por exemplo.
- E desconfiar faz terminar...
- Olhe com outros olhos. Todo mundo age assim. No fundo, todos temos nossos interesses e queremos nos dar bem. Cabe a quem ouve uma confidência ou uma fofoca ter certeza do que é e do que pensa, para não se deixar influenciar.
- Mas e se ele estiver pensando coisas ruins a meu respeito?
- E isso ter feito a relação de vocês dar errado? É um pensamento errado.
- Acha que um amigo não tem influência sobre o outro?
- Tem sim. Mas não tem influência sobre o amor. Essa é a diferença, que parece sutil, mas é drástica.
- Não devia ter falado, não devia ter me aberto, não devia ter confiado...
- Pare de se culpar com relação a isso. Se não deu certo, foi tão somente devido a uma incapacidade dele de amar.

Ela respirou fundo. Fim da sessão. Saiu andando e pensou em tudo. A culpa por ser tão de verdade, tão inteira, tão intensa nas relações: "O bom disso tudo é que com a mesma intensidade com que me apaixono e me entrego, esqueço".

6 comentários:

Renata Cavalcante disse...

Ê Maria, se eu tivesse escrito sobre mim, não soaria tão verdadeiro...

Maria do Mundo disse...

Rê Linda, apareça sempre por aqui! acho que tem mesmo um pouco de nós em tudo que é dos outros né? rs beijos e obrigada

Anônimo disse...

1-Pensar, 2-dizer, 3-ouvir, 4-interpretar e 5-repassar a informação. E aí a ideia já se perdeu em pelo menos cinco processos complicados...
E a gente ainda insiste em se apegar às palavras, né

Dani Dias disse...

amoooo!

Unknown disse...

Eu diria que, se alguem ouviu que cometi um crime e alguem nao me pergunta se eu o cometi de fato e por que eu cometi, alguem nao acreditou que cometi um crime. Se acreditou, alguem passa a ser ninguem. Ate que alguem volte ao ponto de partida e tire suas duvidas comigo. Eu prefiro pensar que todos tem suas razoes. E eu as respeito sempre. Porque ja cometi crimes que ja condenei e que ja me arrependi de condenar. Resumindo, quem te conhece tem consciencia de quem vc eh. O resto foda-se se quer julgar. Em outras sessoes ja foi muito falado: "pare de se culpar por tudo e todos!". Assim a gente tem mais tempo praquelas coisas boas que a gente procura todos os dias. Como um samba! :-)

Maria do Mundo disse...

Tem toda razão: o julgamento é péssimo! ainda mais quando é da gente pela e pra gente mesmo. rs. Porque fica pesado. E a vida é leve. o problema é que tirar todas as dúvidas sempre é impossível. dúvidas existirão. isso é vida. quem quer sanar todas as dúvidas, acaba não vivendo as coisas boas...Tem que se permitir, isso é gostoso demais... e o samba? ah, o samba sabe o que diz...
obrigada a todos os queridos pelas visitas e palavras que sempre acrescentam!