Essa história de que as condições climáticas influenciavam as pessoas já era antiga. Crendice ou sabedoria popular. Depende do ponto de vista. Só que dessa vez ela percebeu que o contrário estava acontecendo: era ela quem estava modificando o tempo.
Ela estava com ele, mas tinha o outro. E nem ele nem o outro sabiam o que se passava na cabeça dela. Acho que nem mesmo ela, só o tempo podia saber.
Toda vez que ela decidia ficar com ele, o tempo fechava e ventava muito. Às vezes chovia. Mas não era para lavar a alma. Era aquela garoa fina, insistente, como um lamento. Toda vez que ela optava pelo outro, fazia sol.
Quando chegou a primavera, ela decidiu ficar só com ele. E o tempo fechou. Ficou só cinza. Às vezes, chovia. Foram meses sem sol. Os dias eram cinzas, tristes, angustiantes. As pessoas não saíam mais de casa. Não se lavava mais a roupa e colocava no varal: a opção era a secadora ou a lavanderia. Do contrário, elas não secariam e começariam a cheirar mal. As plantas morreram, deixando as floreiras vazias.
Ela foi ficando absorvida pelo clima. Pelo tempo. Também foi ficando vazia. Um dia encontrou, por um acaso, o outro e mudou a opção. O outro virou ele para ela. O dia amanheceu com um sol lindo, dotado de toda uma intensidade guardada durante o período sabático. E nunca mais anoiteceu. As noites eram brancas, por causa da lua, que vinha religiosamente visitar o sol. Os dias eram amarelos, cheios de energia. O sol era onipresente. Ele e ela eram os únicos ocupantes daquele tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário