quarta-feira, 11 de março de 2009

O medo do juízo

Ele gostava tanto dela. E ela dele. Mas nem um, nem outro confessariam tal desatino em sã consciência. Sequer sob pena de serem torturados. Era o irrealizável. E isso tornava aquele sentimento mais interessante ainda.
O proibido é desafiador. E ponto. Mas o irrealizável, além de desafiador, traz uma angustia em sua condição. Uma fatalidade. E a ideia que fica é de que, se concretizado, seria irretocável.

Bobagem?

O que os outros iriam pensar? Ou, pior ainda, o que os outros iriam dizer? Ela vivia num mundo de convenções, no qual a opinião do outro sobre suas escolhas pesava muito. Era quase sempre determinante. Ele tentava escapar disso, mas apenas na teoria. Na prática, era talvez até mais preocupado com as convenções, a moral e as regras.

Eles se encontravam, muitas vezes. Conversavam, poucas.

Aquela situação era insustentável para ela, no entanto, administrável para ele. E ele foi levando. E ela foi sofrendo. E ele foi negando. E ela foi pressionando. E ele se esquivava. E ela ficou doente. Talvez do coração, talvez da carcaça mesmo. E ele percebeu o quanto era tolo. E aquela situação se esvaiu. E ela trocou de plano. E ele tomou coragem.

Mas aí, então, já era tarde. Deitou, e foi sonhar.

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